por Dr. Martinho Lutero
“Diz o insensato no seu coração: Não há Deus. Corrompem-se e praticam abominação; já não há quem faça o bem.” (Salmo 14:1)
Neste salmo, nada se fala de perseguição dos piedosos, nem de falsos mestres, mas seu escopo é descrever os hábitos e a vida dos pecadores ou da geração depravada e pôr a descoberto que todos os homens que vivem fora da graça, são pecadores e maus, visto que não vivem senão em soberba, lascívia, roubo, fraude, homicídio e em pecados semelhantes, ainda que se empenhem em colorir tudo isso ou, então, o desconsideram.
“Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer.” (Romanos 3:10)
O primeiro mal, isto é, a fonte de todos os males, é a ignorância em relação a Deus. Pois quem peca no primeiro mandamento não deixará de transgredir todos os outros. Ora, todos os mandamentos dependem do primeiro e por ele são regulamentados e praticados. Além disso, nenhum outro é mais violado, nem mesmo por mais pessoas do que o primeiro. Portanto, a partir daí é fácil de entender quão poucos são bons e que entre os filhos dos homens não há um único que faça o bem. Na verdade, nem todos cometem adultério, entregam-se a prática da incastidade ou matam. Contudo, todos cometem os mesmos pecados em incredulidade comum contra o primeiro mandamento. Mas dirás: “como é possível crer que eu agrado a Deus em todas as obras ou que Deus sempre e perpetuamente me é propício, quando eu, por vezes, falho com o próximo, como, rio, sim de vez em quando também gracejo, e nos consolamos mutuamente com deleitáveis conversas?
Como, se eu logo pecar abertamente e também cair em outro grande erro, como ira, da lascívia e da cobiça?
Respondo o que consta em Provérbios 24:16:
“Sete vezes cai o justo e cada vez se reergue; os ímpios, porém, precipitam-se no mal.”
Pois isto diferencia o justo do ímpio: o ímpio se arroga querer apaziguar e vencer Deus através das obras. Por isso, ele jamais se reergue de onde caiu, porque ele não tem outro caminho para se reerguer do que as obras, pelas quais ele imagina poder dobrar Deus. O justo, porém, que sabe que Deus não somente prometeu a sua graça, antecipando-se a ele com isso, mas também ordenou que, antes de quaisquer obras, se creia e se espere nele, e nem por isso se reergue porque se apoia em obras; mas também não permanece caído, porque caiu, mas, lembrado da promessa e do mandamento de Deus, tem diante de si a misericórdia que lhe é propícia.
